Publicado em: 23/02/2022

Os turistas que gostam de natureza e caminhadas agora têm a disposição um dos passeios mais contemplativos do estado de São Paulo e talvez do Brasil. O Caminhos do Mar foi a primeira rodovia da América Latina a receber pavimentação em concreto, sendo inaugurada no ano de 1920, aproveitando os contornos da Serra do Mar para interligar o Planalto Paulistano ao Litoral.

A Serra do Mar sempre foi passagem para povos indígenas que habitavam a região e, a partir da colonização portuguesa, os caminhos passaram a ser também utilizados para interligação do Porto de Santos com o Planalto. Ao longo dos anos, por estes caminhos circularam também tropeiros, escravos, imigrantes e turistas, além dos povos tradicionais, e a rota tornou-se importante na distribuição de mercadorias que sustentavam o crescimento dos núcleos urbanos, apesar da precariedade e do alto grau de dificuldade de circulação na serra. Assim surgiram o Caminho do Padre Anchieta, considerado a primeira versão do Caminho do Mar, e a Calçada do Lorena, inaugurada ainda em 1790.

A intensificação do comércio e da circulação de mercadorias gerou a necessidade de implantação de outra estrada, a Estrada da Maioridade, que permitia pela primeira vez o tráfego de carroças a partir de 1844. Posteriormente, após adequação, a via recebe o nome de Estrada do Vergueiro e se interliga com o Município de São Paulo.

A partir da década de 1860, a implantação da Estrada de Ferro Santos-Jundiaí  para atender a demanda de circulação de mercadorias e pessoas. Assim, a Estrada do Vergueiro caiu em desuso até meados de 1900, quando então a valorização dos automóveis e a entrada destes veículos no mercado brasileiro passa a ganhar destaque e inaugura-se então a Rodovia Caminhos do Mar, já concretada, nos anos 1920.

Com o passar dos séculos, a região nunca perdeu seu brilho e sabor de aventura. Até os dias atuais, por ali é possível encontrar belas paisagens, trechos relativamente planos e declividades extremamente desafiantes, vários monumentos históricos, restaurantes e muito espaço para o lazer e esportes. Parte da Rodovia ficou conhecida como Rota do Peixe, já que ali é possível encontrar diversos restaurantes especializados neste prato.

Por ela é possível acessar o Parque Estadual da Serra do Mar, a Rota Ecoturística Caminho do Sal, podendo desfrutar dos clubes de campo, churrascarias, pesqueiros, esportes náuticos e muitas outras atividades, tudo isso em meio à exuberante Mata Atlântica e às margens do Reservatório Billings. A Estrada é um importante local para a prática do ciclismo de estrada e do triathlon (corrida, nado e ciclismo), e recebe atletas dos mais diversos níveis de toda a Região Metropolitana para realização de provas e treinos.

Atualmente privatizada, a estrada recebe caminhantes que podem vislumbrar as belezas da Mata Atlântica, quase uma dezena de cachoeiras, cenários deslumbrantes de turismo contemplativo num percurso de aproximadamente de 8,5 km, descendo de São Bernardo para Cubatão. O trecho percorrido leva entre 1 horas e 40 a 3 horas, dependendo da disposição dos turistas. Quando termina o roteiro, vans fazem o trajeto de subida e ou descida.

No parque existem duas portarias, uma que dá acesso aos visitantes da baixada santista e que fica em Cubatão e outra portaria no município de São Bernardo do Campo, de quem vem da capital, Abc e cidades da Grande São Paulo.

A van cobra R$ 25,00 por trecho. Quem entra por Cubatão sobe a Serra e desce de van, e quem inicia o trajeto em São Bernardo do Campo faz a caminhada descendo e sobre de van. A compra da van não é obrigatória. O local tem área de estacionamento três pontos de apoio para lanches rápidos, água, sucos, alguns salgados e barrinhas de cereais e chocolates.

Achei que esses pontos gastronômicos deveriam colocar a disposição dos visitantes frutas, sucos e sanduíches naturais, vender menos salgadinhos e mais produtos naturais.

A estrada cheia de curvas acentuadas é repleta de histórias. Foi a principal via de acesso do Porto de Santos ao planalto no período do Império, fechada para o tráfego de veículos somente em 1985, quando era o trajeto imperativo para quem se dirigia à Baixada Santista, antes da inauguração da Rodovia Anchieta em 1947.

A caminhada  passa por monumentos históricos, construídos no período de 1920 a 1922, por Whashigton Luis, presidente do estado de São Paulo, para comemoração do centenário da Independência do Brasil. São um total de sete, Monumento do Pico, Pouso de Paranapiacaba., Belvedere ou Pouso Circular, Rancho da Maioridade, Padrão do Lorena, Pontilhão da Raiz da Serra e Cruzeiro Quinhentista, que nos fazem viajar no tempo, emoldurados por um cenário de rara beleza natural.
O Pouso de Paranapiacaba, que era o ponto de parada dos carros durante a viagem pelo Caminho do Mar. A construção em pedra, com arcos que se debruçam para a Mata Atlântica, presenteia o visitante com a vista da baixada santista e do mar.

Uma parada no Belvedere é quase obrigatória para quem faz o caminho. Bancos recobertos de azulejos português sob um portal em homenagem a Bernardo José de Lorena, fidalgo português, governador-geral da Capitania de São Paulo, que mandou construir o primeiro caminho pavimentado que ligou São Paulo a Santos, construída em pedras em 1790, para o transporte do açúcar e demais gêneros entre o Planalto de Piratininga e o porto de Santos.

É possível caminhar por essa milenar calçada em vários trechos, que ainda conservam sua originalidade. É uma verdadeira volta ao passado.

Durante a descida para Santos, na década de 20, era necessário parar um pouco, descansar e reabastecer os veículos. Para isso, foi construída uma parada no meio da serra à qual deu-se o nome de Rancho da Maioridade, homenagem a D. Pedro II. A casa tem dois andares e foi também uma hospedaria. Dela se vê a baixada santista e o complexo industrial de Cubatão. Na curva da estrada que o rodeia há vestígios do pavimento de macadame original do Caminho do Mar, de 1913.

Cada monumento de sua história, que é possível descobrir a cada parada, onde um monitor está aguardando o visitante, contando inclusive a importância da Usina Henry Borden, que terá na Barragem do Reservatório do Rio das Pedras, muito em breve, um espaço para esportes náuticos sem motores, como caiaque, stand up paddle, entre outros.

A Casa de Visitas do Alto da Serra, construída em 1925, da Usina Henry Borden, entrará em reformas e passará a ser um núcleo de educação ambiental.

Vale lembrar que o passeio só pode ser feito a pé (bicicletas não são permitidas), e para maior comodidade aos visitantes, há uma van circular que passa no trecho em horários determinados. As visitas devem ser agendadas pelo site caminhosdomar.com.br, onde é possível também comprar ingresso online.

SERVIÇO

Estacionamento – R$ 30,00 por carro

Ingressos – R$ 60,00 adultos e R$ 30,00 crianças até 10 anos

Atendimento de Quarta à Domingo, das 8h às 17h

Texto e fotos por: Cláudio Lacerda Oliva

 

Fonte: http://www.qualviagem.com.br/caminhos-do-mar-e-aula-de-historia-e-de-preservacao-entre-planalto-e-litoral-paulista/